Senhor/Senhora parlamentar,
Acompanhei atentamente as sessões da comissão especial das 10 Medidas (23/nov) e do Plenário da Câmara (24/nov). Mesmo sem experiência na lide legislativa foi possível notar a diferença entre parlamentares idôneos – representantes do povo – e os representantes de si mesmos, de seus interesses escusos. Entenda essa carta a partir da posição em que o senhor(a) estiver; não quero generalizar nem ofender pessoas muito dignas que ocupam o nosso parlamento.
Na sessão da Câmara em
24/nov, a decisão pela votação simbólica deixou evidente a escolha preconcebida
do Dep. Beto Mansur, como também a omissão dos maiores partidos – PT, PMDB,
PSDB, DEM, PDT, PP, PR, PSD, PSB, PRB – todos em conluio usurpar e sonegar ao
eleitor a transparência, representatividade e prestação de contas devidas.
Tudo isso tem um preço.
Para os senhores e as senhoras pode ser pouco – talvez a reeleição – mas para a
nação custará bem mais.
O Brasil passa por profunda
crise econômica derivada de erros absurdos de administração e política fiscal,
em muitos casos criminosos. Só com muito esforço e honestidade superaremos esse
difícil momento, que a meu ver ainda durará alguns anos. A punição justa e
rápida daqueles que roubaram a nação e a renúncia ao corporativismo (de classe,
de carreira ou de poder – aqui incluo todos os cidadãos) são ingredientes
necessários para a pacificação nacional e retomada do crescimento. Já as
tentativas de fugir dessas verdades, de continuar mantendo os feudos dos
mais-iguais do que os outros e o costume dos detentores do poder sacrificarem a
verdade e o direito em favor da própria pele somente contribuirão para a
permanência do Brasil como gigante adormecido, pais do futuro, terra de
Macunaíma e das tenebrosas transações com afirmam a sabedoria popular e os
poetas.
Tudo isso em um preço. Para
os senhores e senhoras pode ser pouco, mas para o país custa muito mais.
Não é uma questão de “esquerda
x direita, vermelho x amarelo, mortadela x coxinha” como disse Marcelo
Rubens Paiva, “é moral e ética”. Não são ideias utópicas dos “meninos”
de Curitiba. Não é a luta contra a corrupção como um fim em si mesmo. Do outro
lado de sua mesa, de sua caneta, consciência e voto há pessoas desempregadas e
desesperadas, há hospitais sucateados com milhares de óbitos desnecessários, há
gerações de jovens que em lugar de estudarem linguagem e ciências aprendem a
lei de Gérson, que o negócio é levar vantagem em tudo: se as autoridades roubam e nada acontece, não há razão para o trabalho
e para a verdade; não há justiça debaixo de nosso céu, pensam eles.
A Comissão Especial por
meio do relatório do Dep. Onyx Lorenzoni esquartejou, desidratou, escalpelou as
10 Medidas demandadas pelos eleitores. Depois, demagogicamente, votou unânime pela
aprovação do cadáver-zumbi. Como se não bastasse tal encenação teatral, os
caciques ainda queriam fazer novas intervenções, a serem declaradas em tempo de
votação, às pressas, na surdina – ofendendo a democracia, o eleitor e os seus
pares idôneos.
Os senhores podem e devem
elaborar leis sobre os crimes de responsabilidade, rever questões sobre abuso
de autoridade, regular super-salários e ritos processuais. Aliás, se estas
questões são tão urgentes assim, já deviam tê-lo feito nesses dois anos de
mandato. O que não podem é fazê-lo por oportunismo, legislando em causa
própria, achando-se casta de semi-deuses inatingíveis à medida que tripudiam sobre
a massa que imaginam ignara.
Se os parlamentarzinhos com
o seus terninhos de Armani votarem alguma anistia para si mesmos, se os
suspeitozinhos de Brasília tomarem qualquer ação contra os brasileiros de valor
de Curitiba ou contra a Lava Jato, se os senadorzinhos multi-acusadinhos quiserem
promover guerra de poderes e não se submeterem à lei que é para todos; aqueles de quem todo poder emana, segundo a Constituição, vão colocá-los em lugar merecido.
Aproveito-me das palavras de
Sérgio Moro para concluir esse apelo aos senhores e às senhoras: “Tem-se esperança de que nossos representantes
eleitos, zelosos de suas elevadas responsabilidades, não aprovarão medida dessa
natureza. (24.11.2016)”.
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